VOCÊ SABE O VALOR DA LEITURA?
Quando então aprendi a ler, o mundo se abriu de uma vez. E era pequeno demais para mim. Por Dinha [*]
Quem de nós sabe o valor da leitura? Posso dizer que sei. Ainda pequena, vivi as histórias de lobo e fantasma, de riso e de solidão, através das incansáveis narrativas de meu irmão, apenas dois anos mais velho que eu. Foi no espanto dessas histórias que eu, pela primeira vez, conheci o gosto de aventura em lugares distantes, com pessoas longínquas, em situações inusitadas, vampiro sonhando manhãs de sol.
Eu lia sem ler, ouvindo apenas - e vendo em meu irmão o brilho de entusiasmo e a satisfação em contar histórias, que só os grandes contadores de história têm. Quando, aos sete anos, entrei na escola, e as letrinhas juntaram-se em palavras e em sílabas - para mim, algumas delas nunca foram sílabas, foram sempre cachorros latindo, amigos se cumprimentando, reis ascendendo aos tronos, sapos, macacos e sherazades, explosões de significados, amor descoberto aos poucos.
Quando então aprendi a ler, o mundo se abriu de uma vez. E era pequeno demais para mim: o córrego [riacho] sujo, o barraco apertado e suspenso, para driblar as enchentes, a comida contada. Iniciada a leitura, apenas o amor da mãe prosseguiu (tão imenso quanto as esperanças que ela depositou em mim). Todo o resto perdeu a cor, dissipou-se, precisou ser reescrito.
Empodeirada de leitura, ganhei o mundo, estudei na melhor universidade do país, tornei-me poeta e professora. E se o mundo não me ganhou, foi porque desenvolvi meu senso crítico, fortaleci meu senso de proteção e encontrei alguém que me ajuda a ressignificar o mundo, cotidianamente.
Espalha-Leitura
Eu sei o valor da leitura e sei que no Brasil ele ainda é pequeno.
Gente comum, esforços incomuns
Tempos depois, uma das professoras nos procurou para conhecer melhor a nossa experiência e certificar-se de que ela se encaixava em seu estudo acerca das bibliotecas comunitárias.
Aparentemente, ela gostou tanto do que viu, ali e em outros tantos espaços pelo país afora, que entendeu ser importante a realização de um encontro nacional de bibliotecas comunitárias, enquanto estratégia de fortalecimento destas iniciativas, de modo a aumentar sua visibilidade e promover trocas capazes de aumentar o acesso aos livros no país e contribuir para a formação de leitores. A seu convite, foi formado, então, um coletivo com vistas ao planejamento e execução deste encontro.
Primeiro Encontro Nacional de Bibliotecas Comunitárias
De 2009 até agora, muitos esforços foram demandados, por parte de todos, para que um encontro entre as bibliotecas comunitárias do país fosse realizado: foram feitas muitas reuniões de planejamento, viagens com gastos do próprio bolso, articulações comunitárias, um projeto foi escrito, um plano de trabalho desenhado, uma rede virtual foi criada e segue funcionando no endereço eletrônico http://www.rbbconexoes.ning.com.br. Além disso, foram feitos vários contatos com possíveis parceiros e patrocinadores da idéia. Muitos domingos de sol foram adiados, em nome desta possibilidade.
Para que ele ocorra, esta luta precisa prosseguir. Por isso, convidamos a tod@s a que engrossem as fileiras em torno da batalha, ora travada, para que os livros, enquanto direito, como bens culturais que são, estejam acessíveis a todos e a todas e para que este encontro, enquanto estratégia de reforço nesta batalha, possa efetivamente acontecer.
Você, sabe o valor da leitura?
Publicado também em http://passapalavra.info/?p=23596 e http://malocapraquetequero.blogspot.com
[*] Dinha é membro do Núcleo Poder e Revolução, professora da rede pública municipal da cidade de São Paulo, mestranda em Estudo Comparados de Literatura de Língua Portuguesa (FFLCH/USP) e autora do livro De passagem mas não a passeio (Global Editora, 2008)
FONTE:
http://rbbconexoes.ning.com/forum/topics/voce-sabe-o-valor-da-leitura
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