Sarau do dia 24 julho com a presença de Emerson Alcalde com livro (A) MASSA

sábado, 14 de maio de 2011

MORTOS DE MAIO, PARA NUNCA ESQUECER

No dia 14/05/2006, dia das mães, em meio ao caos que se instalou em São Paulo, nós aqui do Parque Bristol assistimos, espantados e tristes, a morte de Fabrício de Lima Andrade, de 18 anos, Edivaldo Soares Andrade, de 24 anos, Israel Alves de Souza, de 25 anos, e, em 05/12 do mesmo ano, a morte do único sobrevivente desta chacina aqui no Bristol: o nosso saudoso, guerreiro e querido Fernando Elza, o Malote, então com 22 anos.
Para que não esqueçamos, nunca jamais, republico alguns poemas e estas poucas linhas que não traduzem a saudade, a tristeza e a nossa indignação com o Estado podre.
Esta guerra tem nos deixado marcas que nunca nunca se apagam.

Notícia de Israel

(Panfleto contra todos os homens-blindados-que-cagam-ouro-na-minha-fome-e-na-fome-da-minha-família)

I
Anteontem, em algum lugar do passado, eu via uns rapazes negros, bonitos, pintas de rappers ( entretanto dançavam as danças de roda). Tão iguais e tão diferentes dos que ontem morreram nas mãos da polícia. Dos que ontem mataram "os polícia".

Era dia das mães e os tiros entraram nos meus ouvidos ao mesmo tempo em que imagens da gente toda que eu conheço e confio me passava pelos olhos
e rezas – mais com o corpo que com a lógica – me pesavam por cada um deles. Desordenadamente.

Mas, ai, esqueci de alguns!!!
e três mães acordaram sem filhos.
nem dormiram – o que diz mais.
E eu não ouvi notícia em nenhum telejornal.

Em casa, a recomendação: Dinha, não sai de casa, nem volta de madrugada que a polícia ta matando todo mundo.


II
Quem começou essa briga?
Quem está brigando com quem?

"Quem é marginal?
Quem é a lei?".

Polícia contra bandido?
Ou fardados contra sem farda? Como o jogo de "solteiro e casado", no primeiro dia do ano?

Bandido contra bandido.

Israel no meio, às 11.20 da noite, voltando pra casa da mãe.

Explorado contra explorado.

III

Me mandem matar a polícia!

Eu vou, se isso trouxer
Israel,
Sandro,
Aristides,
Luciano,
Márcio,
Cometa,
Buiú
(toda a família de Elisângela)
Edmarcos e
Hilário
(toda os mortos dos CEDECAS)

de volta.

Me mandem matar os bandidos!

Eu vou, se me deixarem
Matar todos os homens-blindados-que-cagam-ouro-na-minha-fome-e-na-fome-da-minha-família.
Eu mataria capitães do mato
Se eles não fossem de fato
Tão vítimas como são vítimas:
Os policiais fardados,
Os meninos sem camisa,
A mulher de volta pra casa,
Israel, no colo da mãe.

O fuzil de minha palavra
Precisa estar voltado
Pra verdadeira revolução.


15/05/06

Cemitérios Gerais

O nosso tesouro
enterramos
em vilas e jardins.

Três anos depois, o Cachorro
cavuca
o osso

termina de nos roubar.

Outra família enterra
seu ouro
no mesmo
lugar.


CALIBRE 200

"O guerrilheiro é terra móvel
Decisão de liberdade
Na pátria raivosamente escrava"
(Costa Andrade)


Fernando Maloterson (alto!) lidera a lista dos cem.
(Se não qual o outro sentido do pássaro estúpido tomar o teu corpo te por tão no ar?)

Fernando Maloterson (alto!) comanda a lista dos cem.
Bem lá no finzinho, Aristides - o que sonhava ser padre – recepciona os chegantes.

Meninos de exército
novo
assumindo posições.

Por baixo, prossegue essa vida.
Cotidiano instinto de proteção.
Nova milícia
Velha carícia:
a liberdade inscrita
brilhando fria nas mãos.
14/09/07

Ao Mais-Novo caído

Asseguro.
Com certeza pensou no filho.
no menino que seria
o dos teus olhos
pra sempre.
tua mãe também
quando ouviu teu nome
e tiros
pensou no menino dos olhos
dela.
com certeza
lembrou do batismo
bebê no colinho
abandonando, desde cedo,
o pai.

Asseguro.
Pensou na vida
inteira
pela frente
que era sua e queríamos
que vivesse

pensou, talvez, em mim

eu que sangro todo dia
sua vida e sua história
e que endereço a você
meus versos de guerra e de glória
e divido com meus anjos
essa responsabilidade:
garantir tua existência
avançar em tua idade
roubada
até que se prove
o contrário
e você possa

descansar

em paz.

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