Resgatando o Carnaval de qualidade!!!
Quilombo: Nome dado às comunidades que os escravos negros construíram depois de fugirem de seus trabalhos escravos no Brasil Colonial. Os quilombos abrigavam negros fugidos, índios e brancos pobres que viviam em harmonia e liberdade. O mais famoso dos quilombos – o de Palmares – localizava-se na Serra da Barriga em Alagoas, e resistiu por mais de um século tendo à frente seu grande líder ZUMBI, morto pelas bandeiras paulistas comandadas por Domingos Jorge Velho. O mito negro transformou-se em moderno símbolo brasileiro da resistência do africano à escravatura.
RIO DE JANEIRO, ANOS 1970
Em 08 de dezembro de 1975, inconformado com os rumos que as escolas de samba cursavam, o carioca ANTÔNIO CANDEIA FILHO deixou sua tradicional e querida Portela - onde questionou o gigantismo e a descaracterização de uma verdadeira escola de samba – e prevendo toda a desvalorização da cultura afro-brasileira e do samba em si na decadência das composições, aceleração do ritmo, banalização dos enredos, CANDEIA fundou juntamente com Martinho da Vila, Monarco, Nei Lopes, Wilson Moreira, Doutor e tantos outros grandes bambas o GRÊMIO RECREATIVO DE ARTE NEGRA ESCOLA DE SAMBA QUILOMBO; a escola de samba que veio para preservar a memória e as raízes do samba e da cultura afro-brasileira em sua essência.
O Quilombo por muitos anos abriu o desfile das escolas do grupo principal do Rio de Janeiro e mesmo após a morte de Candeia o G.R.A.N.E.S. Quilombo continuou e não se corrompeu ao capitalismo do carnaval; a comunidade está viva no bairro de Acari no Rio de Janeiro.
SÃO PAULO, BAIRRO DA SAÚDE – TRÊS DÉCADAS DEPOIS
A Escola de Samba Barroca Zona Sul teve o mais jovem mestre de bateria da história do samba de São Paulo: Thiago Praxedes - Mestre Thiago - aos 21 anos, três meses antes do carnaval de 2005 assumiu a bateria da escola e fez um grande trabalho (depois de cinco carnavais a bateria da agremiação voltou a conquistar a nota 30) até que em agosto de 2006, descontente com a gestão que acabara de entrar na direção da escola, deixou o cargo. Sensibilizados, muitos de seus ritmistas seguiram-no quando assumiu a bateria do Brinco da Marquesa onde novamente fizeram um ótimo trabalho obtendo nota 30, a nota máxima.
Pós-carnaval, Mestre Thiago deixou a escola para cuidar de sua vida pessoal. Foi quando o amigo e carnavalesco André Machado (na ocasião no G.R.C.S.E.S. Império de Casa Verde) sugeriu que eles fundassem uma “escola de samba”... A principio, Thiago ressaltou que a idéia parecia impossível pelas desilusões vividas por muitos do grupo dentro do mundo do carnaval. Os dois procuraram então João Paulo Caumo (o Capitão, um dos diretores de bateria do time de Mestre Thiago) para discutir a idéia, ele também animou-se e aderiu à idéia; André lembra que Fernanda Rodrigues, esposa de João, riu da idéia e disse que os três eram loucos! Ela também acompanhou as dificuldades da turma de Thiago na época de Barroca... dias depois a loucura começaria a tornar-se real!
Para o dia 13 de Maio de 2007 fora marcada uma reunião na casa de André Machado, na Vila Guarani, contudo esta foi adiada e num curto tempo a idéia começou a surtir efeitos e tomar proporções reais – eram conversas nos costumeiros encontros desse pessoal sambista de coração na Avenida do Café na barraca de “churrasco do Paiva”, pai de João Paulo.
Foi depois de uma batucada no aniversário de 15 anos de Mariana (sobrinha de João Sampaio, também do time de ritmistas) que a idéia de fundar uma grande entidade foi assumida como responsabilidade à memória do samba pelo grupo o que animou de vez Thiago.
FUNDAÇÃO DO G.R.E.S. QUILOMBO
A reunião foi na casa da Família Sampaio, na Rua dos Caciques, 488 no bairro da Saúde, sob a autorização de Dona Miriam (mãe de João Sampaio) – que já temia as batucadas e os vizinhos. E assim, os fundos do quintal ficou sendo a primeira sede social da escola. A Família Sampaio aderiu à escola visto que também são tradicionais membros de escolas de samba.
Unânime foi a opinião sobre a presidência da nova agremiação: mesmo não querendo Mestre Thiago assumiu a frente da escola. O amigo e ritmista, João Sampaio foi eleito vice-presidente.
Logo foram chegando sambistas de várias escolas, amigos, simpatizantes e uma grande família começava a formar-se: Valmir Alfeu, sobrinho do saudoso Osmar César de Carvalho (fundador da FESEC, ex-presidente da UESP e da Barroca Zona Sul) é empossado diretor de harmonia;Edna Carmo Bueno chefiou os casais de mestre-sala e porta-bandeira; o departamento socialficou sob a responsabilidade de Laudely Sampaio e o departamento feminino sob o comando de Renata Bueno, esposa de André Machado. Cláudio da Silva (Cebion), ex-diretor de harmonia da Barroca, também descontente, chega para ser o diretor de carnaval; André Machado é nomeado carnavalesco oficial e Fernando José Prado (Noel) o responsável pelaAla Musical. Riomar Souza e Saletti Sampaio ficaram responsáveis pela chefia de alas. A ala das crianças, futuro do Quilombo, sob o comando de Renata de Melo e Juliana Sampaio.
Dona Marisa, que têm três de seus quatro filhos na bateria de Mestre Thiago, é a comandante da Ala das Baianas; à Tiago Siqueira, também filho de D. Marisa, e Humberto Alves coube a comissão de apresentação de enredo, visto que à frente do Quilombo sempre caberá a velha guarda de bambas do carnaval paulistano guardada sob a responsabilidade do fotógrafoWagner Celestino.
De grande ênfase no contexto de fundação quilombola, o departamento cultural coube aRobson Ferreira. Marcos Lopes (Kinho) é o relações públicas da agremiação; Márcio da Silva(Badú), diretor de marketing e Laerte Vieira, diretor de eventos.
As finanças quilombolas ficaram sob a direção de Ricardo Demiquili e Thiago Lenci (Castor).
Lílian dos Santos foi nomeada 1ª secretária e Fernanda Rodrigues, 2ª secretária; depois substituída por Juliana Bueno.
Além de todos os nomes já citados, também foram importantes colaboradores para a fundação do G.R.E.S. Quilombo: Felipe Fernandes (Dog), Luís Borelli, Aquiles Borges, Taylor Igi, Claudemir Santos (Tospin), Jhonatan de Oliveira, Rodrigo Nicolisi (Digão), Edilaine Oliveira (Kuka), Gislaine Oliveira, Rodrigo Oliveira (Digo), Liliane Oliveira, Sérgio Din (Sé) e Régis Lopes que assinaram a ata de fundação da escola.
O nome da agremiação foi sugestão de Mestre Thiago em homenagem ao G.R.A.N.E.S. Quilombo de CANDEIA e à força que o nome tem em sua composição e representatividade: oG.R.E.S. QUILOMBO seria o "refúgio" e "abrigo" de sambistas de coração e surgia para reunir todos de muitas bandeiras de resistência na luta em pleno século XXI para devolver às escolas de samba suas verdadeiras raízes – a formação de um cidadão sambista e consciente à história sócio-política da formação da cultura afro-brasileira.
As cores VERDE E BRANCO que dominaram a nova agremiação foram definidas por não haver na Zona Sul paulistana nenhuma agremiação assim definida, mas homenageiam principalmente a relevância da IMPÉRIO SERRANO, talvez hoje a única escola de samba resistente às imposições capitalistas no carnaval, mantendo suas raízes e fiel aos seus ideais culturais como o samba e o jongo – “... uma dama da alta nobreza!”.
A agremiação carioca também foi escolhida pelo fato de ser a escola de coração da maioria dos idealizadores e apoiadores da nova agremiação. Crescido ao som dos discos de Roberto Ribeiro, Mestre Thiago é desde 2002, ritmista da Império.
Foi o clássico “BUMBUM PATICUMBUM PRUGURUNDUM” samba-enredo da Serrinha em 1982 que inspirou o início da carreira do carioca André Machado como carnavalesco em 1987 ainda em sua terra natal, no bairro de Cavalcanti, subúrbio do Rio, pela “Em Cima da Hora”.
O símbolo da agremiação desenvolvido por André Machado é uma coroa constituída de cinco folhas de mariô (um tipo de palmeira, lembrando Palmares) com búzios, também em homenagem à IMPÉRIO SERRANO. Em suas hastes e nos arcos mais duas folhas de palmeira que lembram a resistência de Palmares e o povo escravo jogado às margens da sociedade pós a Lei Áurea em 1888 e que tempos depois virou “Rei” do carnaval mesmo em meio às dificuldades e discriminações, que perduram até hoje agravadas pelo surgimento e espantoso crescimento das“Super Escolas de Samba S/A”.
O número sete se faz presente na data de fundação da agremiação (07/07/07). São sete também os búzios visíveis na coroa; ao todo sete folhas de palmeiras, nas duas palmeiras laterais suas folhas se somadas dão 34, se somados os dois algarismos mais uma vez nos deparamos com o número sete. Acima das cinco palmeiras centrais há contas, totalizando 70: 7+0 = 7. Os raios verde e branco no pavilhão e as letras e pontos de bambú que formamG.R.E.S. Quilombo são 16: 1+6 = 7.
Simbólico no candomblé, sete é o número do orixá Ogun – o grande guardião, deus da defesa, da guerra, da luta; a convicção e a certeza. No sincretismo religioso ele é São Jorge, o santo guerreiro, e sob sua bênção e de Oxum (Nossa Senhora da Conceição) está o Quilombo, mais uma vez retomando a tradição de padroeiros para a agremiação. A subida de ritmo da bateria com características ligadas aos toques de terreiro reverencia o orixá.
Acima da coroa está o sol, símbolo da liberdade. A coroa nos foi tirada, mas a QUILOMBO vem para devolvê-la aos seus verdadeiros reis - o POVO, e também com o intuito de "Não ser rei só na folia" como diria Candeia em “DIA DE GRAÇA”.
E assim, com fundamento na cultura base - a cultura afro - foi feito um assentamento, como no candomblé, ficando na árvore de mariô o símbolo da preservação de nossas raízes. Os caminhos e as portas estão abertos!
A escola não tem como objetivo principal a disputa do carnaval, que deturpou a simplicidade da festa. Nossa missão é defender e resgatar as raízes do samba e da cultura afro-brasileira em memória e respeito àqueles que plantaram nossas raízes no passado; valorizar os fundamentos das escolas de samba em sua essência (como a cadência do ritmo da bateria, a ala das baianas, ala de passistas – sem apelo ao comercial culto estético) inovando de uma maneira na qual a cultura não seja corrompida. Estudar, pesquisar e debater temas ligados à cultura popular brasileira e manifestações de raízes afro.
Para muitos o G.R.E.S. QUILOMBO nasceu num momento impróprio; para outros no melhor momento, principalmente para revalorizar os sambistas de São Paulo, grandes deles hoje esquecidos. Quando anunciou-se a fundação da escola, Mestre Thiago e seus companheiros foram taxados de loucos e malucos por derrepente não saberem o que estavam fazendo... mas o ideal já estava à frente de tudo!
Uma escola sem dono, sem se submeter às coisas extra-samba, sem vínculo comercial e sem deturpações! Quem impera é o samba e seus fundamentos!
“A chama não se apagou”
Grêmio Recreativo Escola de Samba Quilombo
“O Negro é a nossa inspiração. O Samba é a nossa vocação!!!”
Grêmio Recreativo Escola de Samba Quilombo
“O Negro é a nossa inspiração. O Samba é a nossa vocação!!!”
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